domingo, 24 de outubro de 2010

Espirito divino com coração de lobo feroz

Por mais que nós tentemos desviar a atenção para as qualidades do coração, temos um corpo animal e instinto de sobrevivência.

O lobo selvagem, quando o alimentamos, torna-se um amigo, um cão fiel. Mas, quando a fome aperta, o amigo fiel pode tornar-se num predador implacável, rosnando determinado de volta da sua presa, até a conseguir dominar e o sangue da presa vencida lhe esguichar para o focinho. E a guerra continua, na disputa da caça, no seio da matilha, que é governada pela lei da força.

Ao olhar para o lobo selvagem, a lutar pela sobrevivência, o que me incomoda não são as leis da natureza, criadas pelo nosso Pai de infinita bondade. O lobo selvagem não tem consciência do mal e do bem, está bem enquadrado no seu mundo. O que me assusta é ver em nós os mesmos, seres humanos, a ferocidade do lobo selvagem esfaimado, com a agravante que o fazemos mesmo com a barriga cheia.

E pergunto-me: quem sou eu? Será que eu sou um lobo disfarçado de cordeiro? Será que, em caso extremo, eu me transformo numa besta feroz, como o lobo esfaimado? Se, na alimentação, sou efectivamente predador, pouco ou nada posso fazer, em relação a isso. Há quem diga que podemos ser vegetarianos, talvez...Mas, sinceramente não estou muito preocupado com isso, por enquanto.

Contudo, não é que nos entra pela boca, ou seja, a alimentação, que faz de nós bestas selvagens, mas o que sai da mesma.

Não é o que fazemos por estar esfaimados que nos caracteriza como seres maus e ferozes. Nós vamos muito mais longe. Nós somos violentos mesmo quando temos a barriga bem cheia, quando temos infinitamente mais do que o estritamente necessário para sobreviver. E, quando se trata de falar das feras da Terra, de imediato nos esforçamos para nos distinguirmos delas, como se fossemos ovelhas inocentes. Tal qual lobos com pele de cordeiro.

Ao olhar para a violenta figura dos lobos raivosos de volta das suas presas, comparo-a com a minha própria figura, e vejo a distância tão grande que me separa dos mundos em que a lei divina é a lei que Jesus nos ensinou: o amor entre todos, a solidariedade fraterna. E tenho vontade de dizer em prece:

- Obrigado meu Deus, pela Vossa misericórdia, pelo Vosso amor paternal. Se não fosse isso, o que seria de mim? O que seria de nós?

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