domingo, 15 de maio de 2011

Fenómeno de Fátima - Portugal

Milhares de pessoas se deslocam a Fátima - Portugal, todo o ano, mas em especial em 13 de Maio, porque consideram que no local onde foi construído o Santuário, apareceu em 1917 o Espírito de Maria de Nazaré, mãe carnal de Jesus, a três meninos pastores. Chamam ao fenómeno um milagre.
Concordo com o ponto de vista de Allan Kardec, que escreveu que, milagres, no sentido de excepções especiais às leis da natureza, são pouco ou nada prováveis. Com efeito, sendo Deus perfeito, não se engana, não precisando de derrogar as leis naturais que Ele mesmo determinou que o universo deveria respeitar. Contudo, ninguém pode falar por Deus, nem ninguém na Terra pode dizer que conhece os desígnios do Criador.
O que mais provavelmente pode ter ocorrido em Fátima foram fenómenos que a ciência não investigou, ou investigou e não conseguiu explicar, no âmbito dos conhecimentos científicos. Mas isso não quer dizer que se trate de fenómenos sobrenaturais ou milagres. Há muitos fenómenos naturais que a ciência ainda não explica.
À luz das investigações de Allan Kardec, escritas nos seus livros, a aparição de um espírito é um fenómeno natural, que pode ocorrer na presença de médiuns. No caso do médium vidente apenas o mesmo veria o espírito, no caso do médium de efeitos físicos, o espírito podia aparecer a várias pessoas e até tornar-se provisoriamente palpável. Para a doutrina espirita, a aparição de um Espírito aos meninos pastores seria possível e trata-se de um fenómeno natural, embora a ciência não o admita, porque ainda não o estudou com a atenção e os meios devidos. Quanto aos outros fenómenos que dizem lá ter ocorrido, não acredito obviamente que o Sol se tenha movimentado, porque isso levaria, provavelmente, a tremendos abalos sísmicos na Terra, por acção gravítica. O que os pessoas viram impressionou-as, mas tratou-se de um fenómeno atmosférico local conjugado com o facto de as pessoas estarem a olhar demasiado para o Sol, que gerou, talvez, ilusões de óptica ou outros fenómenos materiais explicáveis. Se fosse hoje, teríamos, talvez, registos mais exactos.
De qualquer forma, admitindo que apareceu ali um Espírito, o que não me parece convincente é que se tivesse tratado de Maria de Nazaré, mãe de Jesus. Tendo Maria sido escolhida para tão importante missão aqui na Terra, como a de carregar no seu ventre e cuidar da infância do mais importante Mestre e Guia da humanidade que pisou este planeta, espera-se dela uma grande elevação moral, e, por consequência, uma mensagem condizente com tal elevação e coerente com as palavras de Jesus.
A não ser que a mensagem original tenha sido deturpada, o que é uma possibilidade a ter em conta, o que o site do Vaticano nos apresenta:
Citação de Lúcia:
A primeira foi pois a vista do inferno!
Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fôgo que parcia estar debaixo da terra. Mergulhados em êsse fôgo os demónios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras, ou bronziadas com forma humana, que flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que d'elas mesmas saiam, juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das faulhas em os grandes incêndios sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dôr e desespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor. Os demónios destinguiam-se por formas horríveis e ascrosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes e negros. Esta vista foi um momento, e graças à nossa bôa Mãe do Céu; que antes nos tinha prevenido com a promeça de nos levar para o Céu (na primeira aparição) se assim não fosse, creio que teríamos morrido de susto e pavor. Em seguida, levantámos os olhos para Nossa Senhora que nos disse com bondade e tristeza:
Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores, para as salvar, Deus quer establecer no mundo a devoção a meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu disser salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra peor. Quando virdes uma noite, alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai a punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir virei pedir a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz, se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sufrer, várias nações serão aniquiladas, por fim o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será consedido ao mundo algum tempo de paz.
Escrevo em acto de obediência a Vós Deus meu, que mo mandais por meio de sua Ex.cia Rev.ma o Senhor Bispo de Leiria e da Vossa e minha Santíssima Mãe.
Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora um pouco mais alto um Anjo com uma espada de fôgo em a mão esquerda; ao centilar, despedia chamas que parecia iam encendiar o mundo; mas apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro: O Anjo apontando com a mão direita para a terra, com voz forte disse: Penitência, Penitência, Penitência! E vimos n'uma luz emensa que é Deus: “algo semelhante a como se vêem as pessoas n'um espelho quando lhe passam por diante” um Bispo vestido de Branco “tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre”. Varios outros Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fôra de sobreiro com a casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio trémulo com andar vacilante, acabrunhado de dôr e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado de juelhos aos pés da grande Cruz foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam varios tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns trás outros os Bispos Sacerdotes, religiosos e religiosas e varias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de varias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal em a mão, n'êles recolhiam o sangue dos Martires e com êle regavam as almas que se aproximavam de Deus.

Depois de ler esta mensagem, perdoem-me os devotos de Fátima, que muito respeito, mas não consigo acreditar que se trate de uma mensagem com a elevação moral e intelectual que se possa atribuir a uma entidade de nome tão respeitável como Maria de Nazaré. O próprio Jesus nos ensinou qual o critério para averiguar racionalmente da veracidade da palavra: as árvores avaliam-se pelos seus frutos. Esta mensagem é um fruto que não é compatível com a "árvore" de que as pessoas alegam ter saído. Atribuir esta mensagem a Maria, na minha opinião, é diminuir a imagem da mãe terrena de Jesus.

Quanto às promessas que as pessoas fazem a Maria de Nazaré, em troca de um favor que, alegam lhes foi concedido por intercessão daquela que foi mãe de Jesus aqui na Terra, cada um tem as suas crenças e o direito de as manifestar da forma que bem entender. Não é a essa a minha forma de pensar, mas isso não interessa, para o caso.

O que estou certo, baseado nos Evangelhos, é que a forma de retribuir um favor concedido, que será agradável a Deus, a Jesus e a Maria de Nazaré, será, primeiro que tudo, conciliar-se com as pessoas com quem possam estar em conflito, pedir perdão e perdoar as ofensas que possam ter existido; em segundo lugar fazer o bem ao próximo, concedendo-lhe favores, em nome de Maria de Nazaré. Esse "milagre", "o milagre do amor" está ao alcance de todos. A auto-flagelação, queimar velas, levar dinheiro ao Santuário, fazer enormes caminhadas a pé, são opções legitimas das pessoas, mas que nada ajudam o próximo. Jesus ensinou a amar o próximo mais do que a nós mesmos. Francisco de Assis, deixou-nos uma bela prece, que nos inspira nesse sentido, com que terminamos.

Oração da paz - Oração de S. Francisco de Assis

Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz;
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé;
Onde houver erros, que eu leve a verdade;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei com que eu procure mais consolar,
que ser consolado;
Compreender, que ser compreendido;
Amar, que ser amado;
Pois é dando que se recebe;
É perdoando, que se é perdoado;
E é morrendo que se vive para a vida eterna.